por João Alípio de Arruda Madeiro
Dizem que corinthiano não escolhe ser assim, já nasce assim. E, no meu caso, não foi diferente. Tanto que meu primeiro aniversário foi com a temática alvinegra, com direito a uniforme. Mas minha ligação mais forte com o Timão começou em dois momentos distintos: aos 06 anos, em 1984, na decepção com a derrota das Diretas Já e a inflação chegava a incríveis 200% mensais (acreditem!), portanto momentos difíceis para todos os brasileiros, a geração de Sócrates, Casagrande, Zenon, Biro-Biro & Cia. deu um chocolate no poderoso Flamengo de Zico & Cia., pelo Brasileiro daquele ano, revertendo uma vantagem conquista pelos cariocas, algo difícil para a época. E, em 1987, Plano Cruzado II, revés financeiro na família, vi a saga do alvinegro no Paulistão daquele ano, de onde saiu da lanterna para o honroso vice diante do São Paulo dos Menudos (time respeitável, diga-se de passagem). Foi nestes momentos que aprendi o significado da palavra superação.
Veio 1988, havia acabado de me mudar para Maceió, na primeira passagem, e, na minha solidão e no único lugar organizado da casa, a sala, a TV transmitiu o gol do garoto Viola, e a supremacia no Paulistão. Em 1990, o revés emocional, a separação dos meus pais, e a única alegria daquele ano foi o primeiro título brasileiro, em cima do Tricolor. Até hoje tenho guardada a camisa idêntica à usada por Neto na campanha, sem esquercer, é claro, de Tupãzinho, assim como Basílio em 77, o herói da libertação. Foi nestes momentos que aprendi o significado do amor mais forte nas dificuldades.
Veio a adolescência, e, com ela, o significado do amor posto à prova: anos difíceis, gozações de Tricolores e Palmeirenses, culminando com perdas de títulos para ambos. Em 1995, o fim do sofrimento, a conquista épica da Copa do Brasil, sobre o Grêmio, em pleno caldeirão do Olímpico, e, no Paulistão, o fim do tabu de não vencer o Verdão em finais, e também o fim da gozação. Este período me explicou o significado da palavra esperança.
Veio a era moderna do futebol, de grandes investimentos: Banco Excel, Hicks Muse e MSI, e muitas conquistas entre 1997 e 2003, desde o Paulista até o Mundial, passando pelo Brasileiro. Curiosamente, todas as conquistas tendo como destaques os “patinhos feios” dos super-times montados: Mirandinha, Dinei, Fernando Baiano, Márcio Costa, Ewerthon, Gil (estes ainda recém-saídos da base), Rosinei, Marcelo Mattos, apesar dos times montados contarem com jogadores como Dida, Gamarra, Fábio Luciano, Silvinho (ainda sem y), depois Kléber; Vampeta, Rincón, Marcelinho, Ricardinho, Luizão, Deivid, Tévez e Nilmar, entre outros. Mas os grandes investidores jamais conseguiram alterar o significado de ser corinthiano, e as vitórias dramáticas.
Porém, a maior prova de amor, de ligação entre eu e o Timão, e a aplicação do bordão “eu nunca vou te abandonar porque te amo”, se deu no fatídico rebaixamento em 2007: fim de jogo, agüentei firme as gozações dos adversários, e, no mesmo instante, gritei em alto e bom som: nós voltaremos! Naquele momento percebi que, se nos momentos difíceis da minha vida, o Corinthians me brindou e me alentou com conquistas, por que, naquele momento, eu o abandonaria? Foi ali que aprendi a significação do amor incondicional. Que se fez presente em 2008: acompanhei toda a saga pela volta à elite. Nos dias dos jogos da Série B, era meu único compromisso. Se preciso fosse, cancelava e desmarcava os restantes. Afinal, a retribuição, e uma nova emoção, indescritível, no jogo que definiu a volta: “o coringão voltouuuuuuu”.
Em 2009, a volta às conquistas, e em grande estilo, primeiro o Paulistão, depois do chocolate no tri-hexa brasileiro, nas semifinais, outro chocolate e a suplantação de um antigo algoz, o Santos, em plena Vila Belmiro, com direito a aplausos de Pelé sobre outro ícone de superação: Ronaldo. Aliás, o primeiro gol dele com a camisa alvinegra, em cima do Palmeiras, aos 48 do segundo tempo, já valeu a contratação. Na Copa do Brasil, outro algoz superado, em grande estilo, vingando a final de 1976 perdida no mesmo Beira-Rio: O Inter. E a significação do amor amadurecido e consolidado, que, quando atinge este estágio, se torna ainda mais forte.
Ser corinthiano é algo único, indescritível. É ter amor incondicional pelo time, seja em que momento for. É vibrar até em conquista de cuspe à distância. Corinthiano deixa tudo: mulher, emprego, cidade, estado, país, e todo o resto. Mas nunca deixa a paixão pelo Corinthians.
João Alípio de Arruda Madeiro é advogado e corintiano
Rodrigo, agora só falta o texto de um santista.
ResponderExcluirEm tempo, o João na verdade é torcedor do CRB!!!
Abçs.
Se já é duro torcer pra time grande, imagina pro CRB!!!!
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